segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Novas realidades

No primeiro post escrevi um pouco sobre as mudanças que tenho vivido desde a descoberta da surdez de Maria Clara. Muitas mudanças não apenas com ela, mas em mim e na nossa família!
Neste blog, em breve, quero escrever sobre outros assuntos também... Textos que já estão na minha mente há tempos... Mas hoje, quero escrever um pouquinho mais sobre uma mudança que tivemos que fazer: Colocar a Maria Clara em ritmo escolar antes do desejado. Nossa ideia inicial era inserir MC no regime escolar apenas na 1a série... Lá pelos seus 5 ou 6 anos.. E até lá, fazer educação dominicliar. Para alguns isso é loucura... Mas para nós, para mim, é um privilégio poder ensinar aos filhos português, matemática e ciências no ambiente familiar, protegendo - os deste mundo tão hostil e bagunçado no qual vivemos... Atualmente eu trabalho no estilo "home office" o que me possibilitaria a educação domiciliar. Claro que daria mais trabalho, mas eu teria a plena certeza de que ela estaria aprendendo o que precisa sem a influência de uma professora, escola, amigos, que poderiam, talvez, influenciar negativamente a formação da minha herança nesses primeiro anos da vida que são tão importantes para a construção do caráter. Outros me perguntam "Mas e a socialização? Criança precisa de amigos!" Sim! Concordo, mas ela não precisa necessariamente de uma escola para se socializar. Participei um tempo de um grupo de pais que exercitam o ensino domiciliar, e eles proporcionavam aos filhos momentos com outras crianças semanalmente para se "socializarem". De fato, dá mais trabalho arrumar tempo para que os filhos brinquem com outras crianças.... Mas é possível! Com toda essa novidade sobre a surdez, foi preciso mudar os planos... Afinal MC precisa se comunicar na língua dela! E eu... Ainda não sei o suficiente para ensina- lá nesta língua! Então, decidimos inseri-la em um ambiente escolar mais cedo... Agora com 1 ano e  10 meses, ela está em um programa de estimulação do desenvolvimento, no colégio Rio Branco em Cotia, um espaço especial para crianças surdas, onde ela e nós podemos aprender LIBRAS e um pouco mais sobre a cultura surda... Até os seus 3 anos é algo mais tranquilo.. 2 vezes por semana e por um período de 1 hora, mas com 4 anos, iniciará o regime escolar.. Indo todos os dias para a escola! Isso é algo que ainda não está assentado em meu coração... Mas  pareceu que a experiência pra ela foi algo super tranquilo ( pelo menos o primeiro dia) quando chegamos na entrada do colégio, ela estava com sua boneca "Suzi". E quando ela viu outras crianças se comunicando por sinais, ela me entregou a boneca e seguiu adiante!  Firme e forte! Foi muito lindo ver a alegria dela ao ver outras crianças se comunicando como ela...
Passou a primeira hora "brincando" com a fono e absorvendo cada sinal, cada expressão! 
As vezes, precisamos nos adaptar a novas realidades em função do outro... Tenho aprendido isso com Maria!  Preciso olhar para o outro e descobrir como facilitar a vida dele! No nosso caso, sacrificar um desejo de educação domiciliar, para que ela possa aprender a língua que lhe é natural é facilitar a vida!  Espero que eu não deixe de olhar para o outro com este desejo... Espero mesmo que isso nunca acabe...



quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Faz parte da vida

28 de Outubro de 2013, dia em que Maria Clara nasceu..  Uma linda tarde de segunda feira, após 20 horas em trabalho de parto em uma casa de parto humanizado em São Paulo ( casa Ângela) À melhor maneira que ela poderia vir ao mundo, e já receber o carinho da mama e papa tão pertinho! Ficou com a gente o tempo todo! Foi maravilhoso ver o rostinho dela! E tem sido até agora! Vivemos o primeiro ano de forma muito intensa e prazeirosa... Mamou exclusivo no peito até 6 meses e confesso que de vez em quando ainda mama rsrs mas tudo bem! 
Com 1 ano e 8 meses descobrimos que ela é surda! Oi?? Como assim? Ela é tão esperta e comunicativa!!! Pois é! Foi um choque! Desconfiávamos desde que completou 1 ano. Quando a fala não veio e ela não respondia a estímulos sonoros... Algumas (muitas) pessoas me perguntaram "vocês não fizeram o teste da orelhinha quando nasceu?" A resposta é sempre a mesma: Não. Pedimos pra pediatra na primeira consulta, ela esqueceu de dar e nós de pedir outra vez.... Mas sabe, fiquei pensando: Qual a diferença em saber sobre o diagnóstico no nascimento ou depois?  E a única diferença é que, se tivéssemos sabido no nascimento, ela hoje já estaria implantada, mas isso não muda o fato de que ela é surda! Não ter feito o teste naquele momento, nos fez ver Maria Clara além de um par de ouvidos! Nos fez viver com ela puramente sendo ela! E isso nos ajuda a enfrentar tudo o que virá!
Maria Clara é uma menina super esperta e divertida! Ela apenas não escuta como os ouvintes. E sendo sincera, depois de passar alguns dias no Hospital das clínicas não vejo a surdez como um grande problema....  Porquê foi terrível ver como tem gente sofrendo mais do que nós! Existem muitas crianças sem nenhuma perspectiva de vida... Em cadeiras de roda com apoios para cabeça... E suas mães, ali firmes e fortes! Muitas delas sozinhas, pois foram abandonadas pelos parceiros que não tiverem condições de conviver com tanto sofrimento...
Não estou dizendo que não há sofrimento em ter uma filha surda, mas que o sofrimento é menor... Não estou dizendo que não sofro... Na verdade esses últimos meses foram os mais difíceis de minha vida... Além de descobrir a surdez de Maria, também  descobri que havia uma placenta sem bebê dento de mim... Uma gravidez anembrionária! Fiquei esperando um aborto espontâneo por 5 semanas, então, ao longo da 12a semana de gestação  fui submetida a uma cirurgia para coletarem o restinho da casinha do meu bebe! Triste é ter que passar por isso!
Mas Deus tem estado comigo! Em todos os momentos só consigo lembrar da fidelidade e do amor que estão presentes em meio ao sofrimento.
Ouvi recentemente uma frase do Ariovaldo Ramos que dizia: "fé não é fazer a tempestade se acalmar, mas dormir  em meio a tempestade". E é assim que estamos vivendo... Ou pelo menos tentando! Dias bons... Dias não tão bons... Mas nos apegando no Criador!

"Eu Sei o que é estar bem, e sei o que é sofrer...
Sei o que é ganhar um filho, e perder o outro..
Sei o que é gestar, e o que é coletar...
Sei o que é ouvir, sei o que sinalizar...
Sei o que sonhar e sei o que é mudar de sonho...
Sei o que é ser acolhido e sei o que solidão...
Sei o que é viver o corpo de Cristo!
Sei o que é viver em uma família que enfrenta o sofrimento!
Tudo posso naquele que me fortalece! 

Ester